Países africanos precisaram boicotar a Copa para garantir presença em mundiais
Egito, Marrocos, Nigéria, Tunísia e Senegal. Se a Copa do Mundo de
2018 conta com a participação de cinco seleções africanas (o recorde
foram 6 graças à anfitriã África do Sul em 2010), muito se deve ao
boicote continental frente à Copa de 1966.
Pouca gente conhece a
história do boicote, que foi fundamental para convencer a Fifa de que as
seleções africanas mereciam ter ao menos uma representante garantida em
cada Copa do Mundo.
A primeira participante africana em uma Copa
foi o Egito, em 1934, na segunda edição do mundial. Depois disso, o
continente assistiria a seis competições sem um representante sequer.
Bastante por causa da situação geopolítica da maioria dos países
africanos, que, até o fim da década de 50, ainda eram considerados
territórios das nações europeias que haviam os colonizado.
Mas, a
partir do início da década de 60, com várias nações africanas se
tornando independentes, havia a expectativa que as seleções do
continente pudessem representar seus povos na Copa do Mundo de 1966,
realizada na Inglaterra.
Seria
uma forma de mostrar ao planeta o potencial esportivo do continente,
reafirmar sua independência em relação à Europa e dar mais uma injeção
de autoestima para os povos de cada país. Se a Fifa permitisse.
Em
janeiro de 1964, a Federação Internacional de Futebol decidiu que a
Copa de 66 seria disputada por 16 seleções, sendo 10 europeias (9 mais a
anfitriã Inglaterra), 4 latino-americanas, uma da América Central ou do
Caribe e mais uma a ser definida em confrontos entre as melhores
equipes de África, Ásia e Oceania.
Ohene Djan, diretor esportivo
da Federação de Gana, então bicampeã africana, que também era membro do
Comitê Executivo da Fifa, não gostou nem um pouco da decisão. Ele tinha
certeza que fazer as seleções da África e da Ásia se dedicarem por anos
nas eliminatórias para brigar por apenas uma vaga era injusto.
Junto
do etíope Tessema Yidnekatchew, Djan enviou um ofício à Fifa pedindo
que a Federação tirasse uma das vagas reservadas para as seleções
europeias, garantindo a presença de uma seleção africana e uma asiática
na Copa.
A Fifa não se mostrou disposta a ceder, e a Confederação
Africana de Futebol decidiu tomar uma decisão firme: em julho de 1964, a
CAF comunicou à Fifa que boicotaria a Copa, a não ser que seu pedido
fosse atendido.
Talvez os representantes da Fifa tenham encarado
aquilo como um blefe, mas, em outubro, as 15 seleções africanas que
disputariam as eliminatórias oficializaram o boicote: todas abriram mão
de tentar a vaga no mundial da Inglaterra.
O futebol era tratado
como uma questão de prestígio: enquanto os países africanos lutavam por
suas independências, a Confederação Africana de Futebol precisava dar
uma demonstração de união na luta pelos interesses do continente.
Assim,
a Coreia do Norte foi para a Copa de 1966, entrando na única vaga
destinada a uma seleção africana ou asiática. Mas o boicote funcionou:
Em 1968, a Fifa anunciou que a Copa de 1970 teria, além do anfitrião
México e da atual campeã Inglaterra, 8 seleções europeias, 3
sul-americanas, uma das Américas Central ou do Norte, uma da Ásia ou
Oceania e uma da África.
A
vaga africana foi ocupada pela seleção de Marrocos, que perdeu dois
jogos (para a Alemanha Ocidental e Peru) e empatou um (contra a
Bulgária), sendo eliminada logo na primeira fase.
A África seguiu
com uma vaga nas Copas de 1974 e 1978. Em 1982, com a expansão do
Mundial de 16 para 24 equipes, o número dobrou, e aumentou para 3 em
1994, muito por causa das boas campanhas de Camarões e Egito na Copa de
1990.
Desde 1998, quando a Copa do Mundo passou a ser disputada
por 32 seleções, a África tem 5 vagas garantidas – a única exceção é o
já citado torneio de 2010, o primeiro em solo africano, quando foram
cinco equipes classificadas através das eliminatórias e mais a anfitriã
África do Sul.
Camarões é a seleção africana com mais
participações em Mundiais – sete. A Nigéria tem seis, já contando 2018, e
Marrocos e Tunísia, cinco. O melhor desempenho em Copas é dividido por
Camarões (1990), Senegal (2002) e Gana (2010): quartas de final. Um
recorde que Egito, Marrocos, Nigéria, Tunísia e Senegal tentarão quebrar
na Rússia, a partir de 14 de junho.
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