Lee Krasner finalmente é reconhecida pela pintora que foi e não apenas como esposa de Pollock
A vida e a obra da pintora estadunidense Lee Krasner foram de tal forma eclipsadas pela importância do trabalho de seu marido que, para muitos, a artista foi lembrada por muitos anos somente como esposa do pintor Jackson Pollock. Nome central dentro do expressionismo abstrato nos EUA, Pollock é um dos mais influentes e reconhecidos pintores estadunidenses em todos os tempos, e tal dimensão quase tornou invisível a imensa qualidade da obra que Krasner desenvolveu, bem como sua própria influência sobre seus pares – e sobre seu marido.
Felizmente, porém, nas últimas décadas a obra da artista, falecida em 1984, vem sendo cada vez mais reconhecida como uma das mais interessantes de sua geração e de seu país – em reconhecimento que vai muito além de simplesmente percebe-la como a mulher de Pollock. Em 2019, por exemplo, seu quadro “The Eye Is The First Circle” (O olho é o primeiro círculo, em tradução livre) foi vendido por 11,6 milhões de dólares, valor recorde para seu trabalho. No mesmo ano, a exposição “Lee Krasner: Living Colour” foi inaugurada no Barbican, em Londres, com grande sucesso, viajando em seguida para diversos museus do mundo, como o Guggenheim da Espanha, como a maior retrospectiva de seu trabalho em quase 50 anos.
Nascida no bairro do Brooklyn, em Nova York, em 1908, Krasner demonstrou grande aptidão e talento para as artes desde muito cedo, aderindo a diversas instituições de ensino e explorando estilos e modalidades variadas, entre a pintura, a colagem e os mosaicos, percorrendo o figurativo, o cubista e o abstrato com naturalidade e desenvoltura. Durante a década de 1930, a tendência abstrata e o experimento com cores se impôs como vozes principais em sua obra, como forças que permaneceriam como ponto essencial de seu trabalho até o fim: a forma como Krasner trabalhava as cores e as formas, como elementos que viriam inclusive a influenciar profundamente o trabalho de Pollock.
Krasner e Pollock se conheceram no início dos anos 1940 e, além da paixão profissional, o romance propriamente os levou ao casamento, em 1945 – quando se mudaram para uma fazenda, em Springs, no estado de Nova York, para se dedicaram integralmente à pintura. Ambos desenvolveram estéticas e técnicas fortes durante o período, mas, por volta do final da década, o imenso reconhecimento que a action painting e o estilo “respingado” e radical de Pollock alcançaria sucesso sem precedentes, e se tornaria o tema central da pintura no período para todo o país – e também dentro de seu relacionamento. O êxito, porém, agravou o alcoolismo de Pollock que, em 1956, reconhecido como o mais importante pintor dos EUA na época, morreu em um acidente de carro.
Para superar a tragédia e a perda da mãe poucos anos depois, Krasner recorreu à força que a moveu por toda sua vida: a pintura. Durante as décadas seguintes, alcançou o período mais maduro, forte e reconhecido de seu trabalho – nos últimos anos de vida, posicionou-se em defesa de maior espaço para as artistas mulheres, e viu o reconhecimento, tardio porém justo, lentamente se aproximar de seu trabalho – seis meses após sua morte, em 1984, o MoMA inaugurou uma retrospectiva com toda sua obra. “A pintura não é separada da vida, é uma coisa só”, ela afirmou. “É como se alguém perguntasse: você quer viver? Minha resposta é sim – e eu pinto”.
© fotos: The Pollock-Krasner Foundation/Reprodução/fonte via
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