Lee Krasner finalmente é reconhecida pela pintora que foi e não apenas como esposa de Pollock
A vida e a obra da pintora estadunidense Lee Krasner foram de tal forma eclipsadas pela importância do trabalho de seu marido que, para muitos, a artista foi lembrada por muitos anos somente como esposa do pintor Jackson Pollock. Nome central dentro do expressionismo abstrato nos EUA, Pollock é um dos mais influentes e reconhecidos pintores estadunidenses em todos os tempos, e tal dimensão quase tornou invisível a imensa qualidade da obra que Krasner desenvolveu, bem como sua própria influência sobre seus pares – e sobre seu marido.
Lee Krasner nos anos 1930
Autorretrato, de 1928
Felizmente, porém, nas últimas décadas a obra da artista, falecida em 1984, vem sendo cada vez mais reconhecida como uma das mais interessantes de sua geração e de seu país – em reconhecimento que vai muito além de simplesmente percebe-la como a mulher de Pollock. Em 2019, por exemplo, seu quadro “The Eye Is The First Circle” (O olho é o primeiro círculo, em tradução livre) foi vendido por 11,6 milhões de dólares, valor recorde para seu trabalho. No mesmo ano, a exposição “Lee Krasner: Living Colour” foi inaugurada no Barbican, em Londres, com grande sucesso, viajando em seguida para diversos museus do mundo, como o Guggenheim da Espanha, como a maior retrospectiva de seu trabalho em quase 50 anos.
Foto de autor desconhecido, mostrando Krasner em 1938
Icarus, de 1964
Nascida no bairro do Brooklyn, em Nova York, em 1908, Krasner demonstrou grande aptidão e talento para as artes desde muito cedo, aderindo a diversas instituições de ensino e explorando estilos e modalidades variadas, entre a pintura, a colagem e os mosaicos, percorrendo o figurativo, o cubista e o abstrato com naturalidade e desenvoltura. Durante a década de 1930, a tendência abstrata e o experimento com cores se impôs como vozes principais em sua obra, como forças que permaneceriam como ponto essencial de seu trabalho até o fim: a forma como Krasner trabalhava as cores e as formas, como elementos que viriam inclusive a influenciar profundamente o trabalho de Pollock.
A artista em seu ateliê em Nova York, em 1939
Mesa de mosaico, de 1947
Krasner e Pollock se conheceram no início dos anos 1940 e, além da paixão profissional, o romance propriamente os levou ao casamento, em 1945 – quando se mudaram para uma fazenda, em Springs, no estado de Nova York, para se dedicaram integralmente à pintura. Ambos desenvolveram estéticas e técnicas fortes durante o período, mas, por volta do final da década, o imenso reconhecimento que a action painting e o estilo “respingado” e radical de Pollock alcançaria sucesso sem precedentes, e se tornaria o tema central da pintura no período para todo o país – e também dentro de seu relacionamento. O êxito, porém, agravou o alcoolismo de Pollock que, em 1956, reconhecido como o mais importante pintor dos EUA na época, morreu em um acidente de carro.
Krasner e Pollock, em 1949
Bald Eagle, de 1955
Para superar a tragédia e a perda da mãe poucos anos depois, Krasner recorreu à força que a moveu por toda sua vida: a pintura. Durante as décadas seguintes, alcançou o período mais maduro, forte e reconhecido de seu trabalho – nos últimos anos de vida, posicionou-se em defesa de maior espaço para as artistas mulheres, e viu o reconhecimento, tardio porém justo, lentamente se aproximar de seu trabalho – seis meses após sua morte, em 1984, o MoMA inaugurou uma retrospectiva com toda sua obra. “A pintura não é separada da vida, é uma coisa só”, ela afirmou. “É como se alguém perguntasse: você quer viver? Minha resposta é sim – e eu pinto”.
The Eye is the First Circle, de 1960 – vendido por 11,6 milhões de dólares
Imperative, de 1976
© fotos: The Pollock-Krasner Foundation/Reprodução/fonte via
Comentários
Postar um comentário