Esqueletos de bebês usando "capacetes" feitos de crânios de outras crianças choca arqueólogos
Arqueólogos descobriram esqueletos de bebês de 100 aC “adornados”
com capacetes feitos dos crânios de outras crianças no sítio arqueológico Salango,
no centro do Equador.
O macabro ritual fúnebre é o primeiro de seu tipo a ser observado.
A descoberta
Os túmulos tinham cerca de 2.100 anos e pertenciam ao povo
Guangala. A escavação de 11 indivíduos ocorreu entre 2014 e 2016, dentre eles
os dois bebês usando “capacetes cranianos” de outras crianças.
Mais pedaços de crânio também foram colocados ao redor da
cabeça dos bebês recém-nascidos mortos.
Uma vez que os
pesquisadores notaram que se tratavam de duas camadas de crânio,
decidiram remover todo o solo e terminar a escavação em laboratório,
para ajudar na preservação dos esqueletos.
“Quando
analisei os restos mortais em 2017, na verdade terminamos de escavá-los
em laboratório, o que levou a descobertas mais detalhadas sobre a idade
dos indivíduos primários e dos crânios extras”, disse a principal
autora do estudo, a antropóloga Sara Juengst da Universidade da Carolina
do Norte (EUA).
Capacetes estranhos
Os cortes nos crânios utilizados como “capacete” indicam que
eles foram propositalmente removidos de outros corpos e posicionados ali.
O
primeiro bebê tinha 18 meses de idade e usava o crânio de uma criança
de 4 a 12 anos. O segundo tinha entre 6 e 9 meses e usava o crânio de
uma criança entre 2 e 12 anos. Nenhum dos esqueletos exibia sinais de
trauma.
Também não haviam indicações de que as crianças haviam sido sacrificadas.
O
fato de os dois crânios externos serem provenientes de crianças foi
considerado “particularmente estranho”, porém, uma vez que é muito mais
comum que crânios de adultos fossem manipulados nos Andes
pré-hispânicos.
Por quê?
Os
pesquisadores não sabem dizer qual o motivo por trás de tal ritual
funerário. Além do “capacete” e dos pedaços de crânio em volta dos dois
bebês, haviam também outros objetos como figuras de pedra.
Uma das hipóteses é de que o “capacete” serviria como
proteção ou empoderamento das crianças na vida após a morte – na cultura local,
as almas das crianças eram consideradas “pré-sociais” ou “selvagens”.
Segundo Juengst, os túmulos foram encontrados em cima de uma
camada de cinza vulcânica, o que pode estar ligado a uma erupção na região e
uma consequente falta de alimentos. Por enquanto, no entanto, os cientistas precisam
de mais evidências para estabelecer conexões entre esses eventos.
Pode até parecer grotesco, mas…
Embora a colocação de crânios como capacetes na cabeça de
bebês pareça algo simplesmente bárbaro para nós, Juengst lembra que é preciso deixar
preconceitos modernos de lado ao examinar culturas diferentes e antigas.
“Nossa concepção de morte se baseia em nossas visões
médicas, religiosas e filosóficas modernas. O povo Guangala tinha sua própria
concepção do cosmos, do que acontece após a morte e do significado dos corpos
humanos. Embora as pessoas sejam geralmente avessas a lidar com cadáveres, há
muitos precedentes em todo o mundo de culturas que não têm essa aversão –
precisamos pensar nas coisas em seu próprio contexto e tentar manter nossos
próprios preconceitos ou ideias sobre ‘certo/errado’ fora da análise”, explicou
ao portal Gizmodo.
Em outras palavras, as razões por trás deste tipo de enterro
são provavelmente mais complexas do que imaginamos.
Um artigo sobre a descoberta foi publicado na revista científica Latin American Antiquity. [Gizmodo]
Comentários
Postar um comentário