“Em nome de Cristo”: evangélicos ajudam a reconstruir terreiro de Candomblé
A intolerância
religiosa é um fenômeno que surge a partir de uma formação social
calçada no racismo e na invisibilização do sujeito negro e de todas as
suas expressões culturais.
Desde
o período da escravidão, que se arrastou até meados do século 19, tudo
que remetia ao continente africano ou era menosprezado ou demonizado.
Nesse sentido um dos principais exemplos são as religiões de origem
africana. Caso do Candomblé, que desde sua formação no Brasil pela fusão
de expressões culturais de negros africanos e os já nascidos deste lado
do Atlântico, vem sendo perseguida por fundamentalistas.
De acordo com levantamento da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR), mais de 70%
dos 1.014 casos de ofensas e atos violentos registrados no estado entre
2012 e 2015 tiveram como alvo praticantes de religiões negras
brasileiras.
Entre
os principais responsáveis pelo aumento ou pela perpetuação das
agressões estão discursos neopentecostais, que nas últimas décadas
adotaram uma postura agressiva contra religiões como o Candomblé.
Falando ao site da BBC Brasil,
Francisco Rivas Neto, sacerdote e fundador da Faculdade de Teologia com
Ênfase em Religiões Afro-Brasileiras (FTU), aponta uma forte presença
da associação pejorativa do negro com a escravidão.
“Os
afro-brasileiros são discriminados, tratados com preconceito, para não
dizer demonizados, por sermos de uma tradição africana/afrodescendente.
Logo, estamos afirmando que o racismo é causa fundamental do preconceito
ao Candomblé e demais religiões afro-brasileiras”, ressalta.
“Se em nome de Cristo destroem, em nome de Cristo vamos reconstruir”
Esta é a postura de um grupo de evangélicos, que decididos em alterar este cenário, está auxiliando a reconstrução de um terreiro destruído no Rio de Janeiro.
Em atividade há mais de 17 anos, a casa de Conceição d’Lissá, localizada em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, contou com a ajuda de evangélicos e levantou R$ 12 mil para obras de recuperação do espaço destruído por um incêndio criminoso.
O
grupo de voluntários conta com a pastora Lusmarina Campos, membra da
Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil e mais três pessoas,
que auxiliaram pessoalmente na remoção de entulhos da campanha concluída
ao final de 2017.
“O
Candomblé sofre preconceito desde que era a religião professada pelos
nossos antepassados, que vieram para o país escravizados. As pessoas
hoje endemonizam o Candomblé como se tivéssemos uma relação estreita com
essa figura chamada diabo, sem saber que o diabo não faz parte do nosso panteão de divinizados. É uma visão eurocristã que não tem nada a ver conosco”, explica para a reportagem da BBC Brasil a babalorixá Conceição d’Lissa.
Iniciativas
combativas e solidárias como estas são fundamentais para uma mudança de
postura acerca das expressões culturais negras do Brasil. Que diga-se,
são responsáveis pela formação social do povo brasileiro.
Fotos: foto 1: Reprodução/Facebook/foto 2: Kauê Vieira
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