Ex-assessora de políticos britânicos explica por que, aos 91 anos, decidiu se assumir homossexual




Barbara Hosking decidiu, aos 91 anos, se assumir homossexual. A profissional trabalhou como funcionária pública ao lado de primeiros-ministros britânicos, como Edward Health (1970-74) e Howard Wilson (1974-76), e também foi executiva de televisão.

Neste tempo todo, ela sempre se posicionou contra situações causadas por barreiras sexistas, lutando pela igualdade salarial e contra o assédio. Agora, resolveu falar publicamente sobre sua sexualidade. “Eu realmente aprecio o fato de que, na minha idade, posso ser totalmente livre com as pessoas. Acho que corro um pouco o risco de me tornar um ícone gay!”, brincou ela, em entrevista à BBC Radio 5.
Hosking explicou na conversa a razão pela qual não falou sobre isso antes, especialmente com a família. “Meus pais não teriam entendido e teriam ficado chocados. Eles me amavam muito, mas meu pai era um homem à moda antiga, convencional. Minha mãe provavelmente teria pensado que foi uma escolha difícil e infeliz para eu ter feito. Na verdade eu tenho sido muito feliz. Tive uma vida plena”, disse ela.



Barbara Hosking está, hoje, com 91 anos

Apesar de não ter se revelado antes, Barbara mantém um relacionamento afetivo com uma mulher há 20 anos. A união foi revelada por ela em sua autobiografia, ‘Além dos meus limites: Memórias de uma Desobediente Funcionária Pública‘.

“Os homens tiveram um grande momento libertador quando as leis (que proibiam a homossexualidade) mudaram e eles não corriam mais perigo de serem presos ou, mais antigamente, serem mortos (por causa da orientação sexual)”, explicou ela, concluindo: “As mulheres nunca tiveram isso, mas é extremamente difícil – você pode facilmente ser relegada ao ostracismo”.

Barbara trabalhou como assessora de imprensa de parlamentares

Barbara trabalhou como assessoria de imprensa dos dois primeiros-ministros, tendo se formado em jornalismo e atuado por boa parte da carreira em Londres e no Partido Trabalhista.

Ela chegou, inclusive, a pensar em concorrer para uma vaga como parlamentar. Hosking diz ter até certa empatia pelas dificuldades enfrentadas por Theresa May, atual premiê, que por objetivo colocar em prática a saída do Reino Unido da União Europeia, movimento conhecido por Brexit.
“Ela teria sido uma primeira-ministra maravilhosa em ‘tempos fáceis’, com uma grande maioria (no Parlamento), mas ela não teve condições para lidar com o que está acontecendo agora”, opinou ela.
Nesse mundo atual, Hosking diz estar orgulhosa de ver as mulheres lutando por direitos básicos, como por exemplo a igualdade salarial. “Acho isso chocante. Por que é tão difícil pagar salários iguais? (A desigualdade) acontece em vários lugares, (mas) poderia ser resolvida”, afirmou.


Ela, porém, diz acreditar que hoje as mulheres “têm mais liberdade para escolher serem elas mesmas do que em qualquer outro momento da história” e que movimentos como o #MeToo, que denuncia escândalos sexuais envolvendo poderosos de Hollywood, em especial, podem ser um divisor de águas. Porém, ela não esconde sentir um pouco de ceticismo.

“Pode haver uma mudança cultural, mas é algo difícil. No passado, (o assédio) era algo que você suportava e guardava para você. Você dava um tapa na mão deles (homens) ou dava um bom empurrão. Acho que você poderia dar uma joelhada se fosse o caso”, lembrou.
Fotos: foto 1 e 2: Arquivo Pessoal; foto 3: Antonio Olmos

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