Fotógrafa que conseguiu entrar em uma clínica de ‘cura’ da homossexualidade reproduz o que viu em ensaio
Para se colocar em perspectiva os
absurdos efeitos e a força que ainda hoje a homofobia possui em nossa
sociedade, vale lembrar que até 1973 a homossexualidade era oficialmente
considerada uma doença nos EUA – e, no Brasil, até 1990.
Não é por acaso que até hoje por todo
mundo clínicas, legais e ilegais, oferecem tratamentos para “curar”
orientações sexuais diversas, ainda as tratando como doenças, fomentando
a homofobia e os diversos crimes contra a comunidade LGBT por toda
parte – as próprias clínicas se valem de métodos brutais e torturantes,
pelo mero hábito de se lucrar em cima da ignorância e do medo.
Foi ouvindo relatos de amigos e amigas que passaram por tais tratamentos em seu país que a fotógrafa equatoriana Paola Paredes decidiu
que precisava retratar e denunciar os métodos criminosos dessas ditas
“clínicas”. Entrar em uma com uma câmera na mão e registrar de fato as
cenas era impossível – Paola conseguiu visitar um desses
estabelecimentos, todos ilegais no Equador, fingindo-se interessada no tratamento, com uma câmera escondida.
As imagens eram tão brutais, no entanto, que ela decidiu que não
deveria expor as pessoas torturadas, e usar a si mesma como atriz para
encenar o que viu.
Além de intensos estudos bíblicos,
exercícios forçados, sessões obrigatórias de terapia em verdadeiras
torturas psicológicas, aplicação de castigos físicos, surras, tortura
direta e até estupros “corretivos” foram documentados em tais clínicas. O ensaio foi chamado de “Até que você se transforme”, e foi, para a fotógrafa, como uma segunda etapa de sua própria “saída do armário”.
O âmbito fotográfico do projeto está
concluído, mas Paola segue entrevistando vítimas, ativistas e
pesquisadores a fim de revelar e denunciar tais práticas. Trazer à tona
tais histórias é, para ela, não só uma maneira de lutar pelo fechamento
desses locais, como para colocar luz sobre a realidade da homofobia e da
dor e a vida das pessoas perseguidas hoje.
Todas as fotos © Paola Paredes
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