Esculpir d'afectos
Das lezírias os trevos declinados ao sopé das colinas
e dali, das estrebarias, o cheiro das aveias e dos fenos
a esculpir d'afectos as narinas abertas dos animais.
Afago ao de leve cerdas ao tempo,
entrelaço, na brandura da noite, uma a uma,
pérolas, fitas coloridas, em crinas hirtas de poemas
e deixo que minha cabeça tombe
que livre entorpeça e sonhe se carrego todas as dores
das negras mulheres d’Atenas.
Abraço-te p’lo pescoço,
coloco o pé descalço em estribo. Ágil, salto.
Aninho-me então longitudinalmente em teu dorso.
Segredo-te felina ao teu ouvido:
- Sabes … Gosto! Gosto quando me prendes,
quando me dobras pela cintura
e examinas o que se mostra, o que se esconde,
no vórtice sedoso do decote …
[...]
E de novo e novamente m’enlaças
e me danças lépido e franco
e me profanas
e me endeusas na sensualidade latina de um Tango
o fogo alado do meu corpo…
Neste rio inexpugnável de lembranças
de que me (re)invento e jejuando, m’alimento,
viajo mística em várzeas supremas d’alecrim e d’hortelã,
saio e entro,
mil vezes,
vezes sem fim, em celibato de alma,
em nomadismo cigano, por dentro do rio salgado de mim
sem hoje
sem amanhã
…assim.
E sou ausência
e sou presença aconchegada nos meus braços;
E sou Infanta
se danço a valsa debutante na ternura, na tremura dos teus passos…
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