Marcas da infância
Mesmo andando pela rua com tanto atraso
Eu exploro tão atentamente o cotidiano por entre os edifícios
Carregando minhas várias dúvidas pelas muitas portas dos ofícios
Mas jamais caminho por entre as vias do acaso
Olhando por entre as janelas as pessoas em seus escritórios
Tão envolvidas em seus afazeres, será que elas ainda tem sonhos?
Eu sei que eu nunca fechei nenhuma porta para algum desejo, e eu sempre justaponho
Eu jamais serei apenas mais uma pessoa procurando entre as placas o seu ofertório
Porque eu sempre sorrio rodeado de palavras e versos
E sempre vou a estação ver o trem passar
Cheio de pessoas com os seus sonhos a almejar
Como um balão que carregam junto ao peito, com aspectos diversos
As ruas com seus muros de pedra se tornam tão pensativas
Cada casinha tão bem ornada com seus vasinhos
Lembro da minha infância, perdido por estas frestinhas
Atravessando por entre os vultos com trejeitos tão instintivos
Os sabiás-laranjeira, meus amiguinhos
Sempre avisavam-me que este tempo era perfeito
Mas como uma criança diferente eu apenas os admirei por suas belas plumas
Nunca por suas verdadeiras mensagens que em meus sonhos se tornaram espumas
Ah saudosa infância, que por ruas jardinadas e multicolores andei, meus passarinhos!
Jamais esquecerei daquela rua, que eu retorne antes do último trem
Para uma última visita, àquele tempo em que os livros e os balões eram desnecessários
Porque hoje, ébrio, por entre o cimento e os carros isso se torna tão confessionário!
Eu lembro que tinha brinquedos muito brilhantes
Que voavam da minha mão para as estórias da minha cabeça
Num movimento tão surreal, tomara que esta lembrança nunca desvaneça
Posto que para mim valem muito, muito mais que todos os diamantes!
Mas saiba, eu nem lembro quando tudo isso se tornou tão poeirento
Nunca jamais percebi que relacionava todas estas cenas a um simples clipe
Sempre ignorei tais imagens, difamando-as em minha mente, mas antes que eu antecipe;
Me dei conta que coloquei meus sonhos à mostra e sem querer eles se tonraram tão rebentos!
Porém o branco céu sempre esconde um mar de fogo em suas madrugadas
As minhas lembranças alegres tinham uma luz vermelha que sorria
Entretanto eu sempre me perdi entre os meus primeiros passos por aquela estrada que partia
Porque meu amor de criança estourou feito bolhas cutucadas por rudes ferroadas
O quão longe as minhas pernas me levaram para longe daquela rua?
Se eu tivesse permanecido estático naquela visão o que eu teria visto?
Você pode dizer porquê esta distância sempre se acentua?
Eu não quero esmagar estas palavras até se tornarem pequenas luzes
A serem tragadas pelo negrume do meu coração
E removidas sem chance de retorno à este momento de arribação!
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