Conheça os bajaus, humanos adaptados geneticamente para mergulhar

Quanto
 tempo você consegue ficar debaixo d’água? Para a maioria das pessoas, é
 difícil romper a fronteira dos 60 segundos, mas há quem possa ficar 
alguns minutos sem respirar. Difícil é competir com os bajaus, 
habitantes do Sudeste Asiático, na região das Filipinas e da Malásia: 
para eles, ficar mais de 10 minutos submersos não é mais que parte da 
rotina.
Os bajaus vivem na região há 
anos, mas longe do continente: há quem os chame de “nômades do mar”, 
pois eles moram em palafitas no meio do oceano e há até aqueles que 
preferem casas flutuantes, sem as estacas para fixar a casa sobre a 
areia.

A
 habilidade de mergulhar para pescar com as mãos ou com lanças de 
madeira vem sendo desenvolvida por milhares de anos, assim como a 
incrível capacidade pulmonar que permite que eles não apenas fiquem sem 
respirar por longos períodos, mas aguentem a pressão de estar a até 60 
metros de profundidade sem nenhum equipamento além de rudimentares 
óculos de madeira.
Foi essa condição impressionante que motivou Melissa Ilardo,
 pesquisadora do Centro de Geogenética da Universidade de Copenhague, a 
viajar da Dinamarca até o sudeste asiático para entender como o corpo 
dos bajaus havia se adaptado geneticamente para que eles tivessem 
maiores chances de sobrevivência.

Sua
 hipótese inicial era que eles pudessem compartilhar uma característica 
semelhante com as focas, mamíferos marinhos que passam muito tempo 
submersos e têm os baços desproporcionalmente grandes quando comparados 
com outros mamíferos.
“Eu queria primeiro conhecer a comunidade, e não apenas aparecer com equipamento científico e sair”, Melissa contou à National Geographic
 sobre sua primeira viagem à Indonésia. Na segunda visita, ela levou um 
aparelho portátil de ultrassom e kits para coleta de saliva.

Foto: Peter Damgaard
A
 suspeita de Melissa se confirmou: realmente o baço, órgão que 
normalmente ajuda a sustentar o sistema imunológico e a reciclar 
glóbulos vermelhos, costuma ser maior entre os bajaus que entre humanos 
que não passam os dias mergulhando – a pesquisadora também coletou dados
 sobre os saluan, um povo que habita a parte continental da Indonésia, e
 os comparou para verificar a hipótese de haver alguma relação 
geográfica para o aumento do baço.
A 
hipótese defendida por Melissa é de que a seleção natural tenha feito 
com que habitantes bajaus com baços maiores tenham, ao longo de séculos 
ou milênios, conseguido taxas de sobrevivência maiores que as dos 
habitantes com baços menores.
Outra 
descoberta da pesquisadora foi que os bajaus têm uma variação genética 
no gene PDE10A, encontrado no baço e que os cientistas acreditam ser um 
dos responsáveis por controlar os níveis de um hormônio da tireoide.

De
 acordo com Melissa, os bajaus com uma cópia do gene mutante costumam 
ter baços ainda maiores que os daqueles que possuem a versão ‘comum’ do 
gene, e aqueles com duas cópias do PDE10A modificado têm baços ainda 
mais avantajados.
Melissa publicou suas descobertas na revista científica Cell,
 mas ressalta que é preciso continuar investigando para entender melhor 
como essas adaptações genéticas ajudam os bajaus a sobreviver, além de 
considerar que pode haver outras explicações para a capacidade incrível 
de mergulho dos ‘nômades do mar’.
Fotos sem crédito: Melissa Ilardo
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