Menino de 7 anos com doença incurável teve 80% de sua pele geneticamente modificada
Cientistas reconstituíram 80% da pele de um menino de 7 anos que
sofre com uma rara doença genética que faz com que a pele seja muito
frágil em todo o corpo, enrolando dolorosamente ao menor contato. A
doença, chamada epidermólise bolhosa juncional (JEB), não tem cura
conhecida, mas a solução desenvolvida pelos cientistas, através do uso
de células de pele geneticamente modificadas, poderia potencialmente
transformar a vida de milhares de pessoas que sofrem com a condição.
A
técnica envolve anexar enxertos de pele geneticamente modificados à
derme, o tecido logo abaixo da epiderme. O mesmo método foi usado
anteriormente em dois pacientes com lesões cutâneas da epidermólise
bolhosa, mas, nesses casos, apenas pequenos remendos da pele foram
reconstruídos.
Michele De Luca, líder da equipe e pesquisadora de células-tronco da
Universidade de Modena e Reggio Emilia, na Itália, diz que a técnica
pode gerar “regeneração vitalícia de praticamente toda a epiderme”.
O paciente em questão era um refugiado sírio de sete anos que foi
internado em uma unidade de queimaduras hospitalares na Alemanha em
junho de 2015 com bolhas e lesões graves que o fizeram perder 80% da
pele que cobria seu corpo. Com todas as terapias corretivas falhando,
seus pais concordaram com o que poderia ter sido a única chance de
salvar a vida de seu filho: reconstruir sua epiderme perdida pedaço a
pedaço.
Os pesquisadores pegaram células da pele de uma área sem bolhas do
corpo do menino e usaram-nas para criar culturas de proteínas que foram
geneticamente modificadas para serem livres da mutação responsável pela
condição do menino – neste caso, uma variante de um gene chamado LAMB3. A
equipe cultivou essas proteínas em uma série de enxertos epidérmicos
transgênicos, que ao longo de três operações substituíram a pele perdida
do menino por uma nova epiderme saudável.
Nos exames de acompanhamento 21 meses após a cirurgia final, o
paciente pareceu ter se recuperado completamente, com sua nova pele
saudável e sem bolhas, demonstrando uma resistência ao estresse que não é
observada em pacientes com JEB.
O
paciente teve alta em fevereiro de 2016. “Sua epiderme é atualmente
estável e robusta, e não forma bolhas, coça ou requer unguentos ou
medicamentos”, garantem os pesquisadores.
Apesar do tratamento ter sido um sucesso, a equipe afirma que tais
tratamentos extensivos normalmente não são necessários, mesmo que agora
sejam cientificamente possíveis. “Pode-se argumentar que o quadro
clínico do paciente, com perda epidérmica maciça, condições críticas,
prognóstico negativo a curto prazo, era incomum e nossa cirurgia
agressiva, obrigatória para este paciente, seria impensável para o curso
clínico da maioria dos pacientes com epidermólise bolhosa”, explicam.
“No entanto, a substituição progressiva da epiderme doente pode ser
alcançada em múltiplas intervenções cirúrgicas menos invasivas em áreas
de corpo mais limitadas”.
Os pesquisadores irão acompanhar o paciente para garantir que a pele
do menino permaneça saudável à medida que ele envelhece. De qualquer
forma, com cerca de 500 mil pessoas vítimas de alguma forma da
epidermólise bolhosa em todo mundo, esta é uma notícia bastante
promissora. [Science Alert]
Comentários
Postar um comentário