A incrível descoberta de um primo carioca do açaí
Um dos maiores símbolos da riqueza e diversidade da Mata Atlântica, a palmeira juçara,
 vinha há décadas sofrendo com a ameaça de extinção graças à extração 
predatória e ilegal de palmito. Até que um grupo de empresários cariocas
 descobriu uma maneira de preservar a floresta, gerar renda para as 
comunidades e transformar em produto aquilo que até então não era sequer
 reconhecido como alimento.
Fomos até a serrinha do Alambari, um distrito de Resende, conhecer a história do açaí da mata atlântica.
 
 
Era 2007 quando o economista George Braile
 começou a notar que tucanos, jacus e uma enorme variedade de aves 
faziam fila para se alimentar dos frutinhos das palmeiras da sua 
propriedade, uma APA (área de preservação ambiental) no
 sul fluminense. As árvores tinham em torno de 15 metros e os frutos 
eram roxos e pequenos. Com faro de empreendedor e amante da natureza, 
Braile decidiu se dedicar a pesquisar sobre aquilo. Promoveu estudos nas
 principais universidades do Rio e, junto com a EMPRAPA, chegou à 
conclusão que o fruto da juçara, da Mata Atlântica, é ‘primo’ do açaí, 
proveniente da região amazônica.


Quem
 nos conta essa história é o Lucas, que abraçou a causa, juntamente com o
 André, o Oscar e a Cynthia, que hoje são detentores da marca Juçaí.
 Na propriedade do George hoje, em época de colheita, habilidosos 
nativos escalam as palmeiras e retiram cuidadosamente os cachos de 
frutos. A película vira a polpa e a semente é usada em novos plantios. 
“Geramos renda com as árvores em pé. No processo de extração do palmito,
 a árvore morria”.



Mas
 é açaí mesmo? É mais do que isso. Vários especialistas afirmam que o 
fruto da juçara tem maior capacidade antioxidante do que o açaí do Pará.
 Quem entende do assunto, diz que ele possui 70% mais ferro, 63% mais 
potássio e 3 vezes mais antocianina. “É a antocianina que dá a cor roxa.
 Açaí não é e não pode ser marrom. É roxo. Se estiver marrom, é porque está oxidado e perdeu seus principais nutrientes”.

Para
 convencer os nativos da região que mais valia colher os frutos da 
juçara do que extrair o palmito e matar as árvores, o pessoal do Juçaí 
se valeu simplesmente da matemática. Ora, um tolete de palmito, com 
cerca de 70 cm, vale para quem extrai míseros R$ 8,00 e implica no 
sacrifício de uma árvore que levou oito anos para crescer. Já o cacho de
 frutos que vão se transformar em Juçaí pode render até R$ 14,00 e, no 
ano que vem, ‘olha lá a árvore de pé gerando frutinhos de novo’.
 
 
 
Tudo na fazenda de onde sai o Juçaí é orgânico.
 Até a água utilizada no despolpamento é reaproveitada. As sementes já 
permitiram o replantio de 650 mil palmeiras. E se engana quem pensa que 
os passarinhos ficaram ‘a ver navios’ nessa história. Pelo menos 1/3 dos
 frutos da juçara permanece intocável justamente para que eles possam 
fazer sua boquinha.
 
Mas,
 alto lá, qual é o gosto desse tal de Juçaí? Pois é aí que vem a melhor 
parte. Por contar com um processo de produção inteiramente orgânico, as 
receitas disponíveis, misturadas com banana, cambuci ou maracujá, são 
incrivelmente frescas e saborosas. “É bom que se diga que o açaí
 que conhecemos, aquele geladinho misturado com guaraná, frutas, granola
 ou aveia é uma invenção do Rio de Janeiro. Quem teve essa 
sacada da mistura foi a família Gracie lá na década de 70. Ora, agora 
com uma matéria-prima legitimamente carioca, não podemos fazer feio no 
quesito sabor”.

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