Loja Ilustrarquia reúne o universo da ilustração independente em SP
Desenhos estão por todas as partes e
causam um encantamento instantâneo em pessoas de 0 a 100 anos. Apesar de
todo mundo ter contato com este universo quando crianças, somente
alguns nascem com o talento (e força de vontade!) necessário para
transformar a atividade em profissão. Pensando em dar aquela forcinha
para a ilustração independente, a loja Ilustrarquia abriu as portas num pequeno e acolhedor espaço na Av. Paulista, em São Paulo.
O endereço fixo numa discreta galeria próxima ao MASP foi escolhido pelos publicitários e ilustradores Fernanda Terra e Nat de Abreu, que transformaram os poucos metros quadrados numa banca de e para ilustradores.
As prateleiras estão recheadas com produções independentes, daquelas
que os criadores passam por um verdadeiro parto até concluírem suas
obras, e também de editoras menores, como Bebel Books e Lote 42.
Apesar de ser bem específico, este é um
nicho que precisava de novos ares dentro da cidade. “Aqui dá para
encontrar HQ’s que não têm em lugar nenhum. Trabalhamos diretamente com a
galera que produz e não tem onde vender”, explicou Nat, falando ainda
que aquele espaço funciona como um verdadeiro desabafo mental no meio da Paulista.
De fato, os profissionais da área e até
mesmo aqueles que praticam a ilustração por hobby, não costumam ter cara
ou voz ativa. Por mais que a gente veja desenhos, tirinhas e cartoons
por todas as partes, pouco ou nada sabemos sobre a mente brilhante por
trás daquilo. Nat complementa a ideia: “expomos essa liberdade criativa. Aqui os artistas têm visibilidade, saem do anonimato”.
A loja é um prato cheio para quem se
entrega de corpo e alma às artes visuais. Numa arara é possível ver e
levar pra casa alguns trabalhos em stêncil e camisetas, como os modelos desenhados por Estenio Napalm. Logo ao lado tem um baú cheio de pôsteres descolados para levar pra casa, incluindo um caça-palavras gigantesco da TXTUrbano,
que espalha muitos stickers pelas paredes paulistanas. No balcão estão
ainda capas de almofada, marca páginas, tatuagens adesivas temporárias e
uma invenção que achei genial: um moleskine-carteira feito em cardboard. É tão lindo ver o artesanal acontecendo.
A qualidade do que está exposto mostra o
quanto este mercado precisa ser ampliado e merece atenção. O bom e
velho humor ácido das histórias em quadrinhos brasileiras, junto com as
críticas bem aplicadas à sociedade, volta a aparecer em alguns trabalhos
disponíveis na loja, como Tempos Modernos, de Rodrigo Terra, e Vida de Prástico, de Ricardo Coimbra.
Outro destaque é a revista-pôster jogável Triple Space Dungeon, de Lucas Gehre,
um formato bem diferente dos convencionais, que rompe com a ordem
narrativa comum. O visual, inspirado em antigos jogos de vídeo-game,
retrata uma aventura espacial onde o leitor interage e pode escolher
vários caminhos para compor uma história.
A procura de ilustradores por uma brecha
nas prateleiras tem sido alta, mesmo que a Ilustrarquia ainda seja um
bebê, com pouco mais de uma semana de vida. Enquanto estava na loja,
presenciei um pequeno grande momento. O ilustrador Willian Denaro e o roteirista (escritor, poeta e etc) Gabriel Araújo chegaram por lá para fechar uma parceria. Enfim encontraram um lugar para expor o zine Feijão com Arroz, um trampo que levou 10 anos para ficar pronto, e a HQ Zimbo, feita em nanquim e pincel, com tiragem de 20 unidades cada.
Assim como a Banca Tatuí,
dedicada a livros independentes, a vitrine de arte marca seu
território dentro de um mundo cada vez mais virtual. Sobre a suposta crise no mercado de impresso, Nat acredita que online e offline podem caminhar juntos. “São duas mídias diferentes, uma complementa a outra, mas ainda acho mágica a obra impressa“.
Livrarias lotadas e feiras de livros bombando mostram o quanto as
pessoas ainda são apaixonadas por folhear e cheirar páginas, ver figuras
e encher suas estantes.
Ilustração é uma gracinha, mas é coisa
séria. Torço para que mais espaços como este pipoquem pela cidade, para
que todos tenham um canto onde o talento ecoe mais alto do que aquela
frase pouco otimista que muitos deles já ouviram: “quando é você vai arrumar um emprego de verdade?“. Se esse é o resultado, agradeço que nunca tenham arrumado!
Todas as fotos © Brunella Nunes
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