A BICICLETA
Sempre achei que andar de bicicleta fosse um puro dom – bastante gratuito 
– da gravidade (que afinal tem lá os seus caprichos). Uma vez, escrevi sobre 
as galinhas que nós “admiramos o modo como se equilibram sobre duas 
patas” e nem nos lembramos de que a sua história é bem mais antiga do 
que imagina a nossa admiração. O mesmo se poderia dizer dos ciclistas: 
admiramos o modo como se equilibram sobre duas rodas, etc., mas sem a 
ênfase das penas e sabendo que a admiração por eles é algo mais recente.
Uma vez, dois poemas de minha autoria (um gato, uma águia) foram 
publicados na edição de número 8 da Bicicleta – revista comemorativa dos 25 anos da Mandrágora –, com intermediação de Nicolau 
Saião, que os encaminhou aos editores Bruno Vilão e Manuel 
Almeida e Sousa. Pouco tempo depois, escrevi um poema intitulado “Bicicletas”, que dediquei a esses empreendedores 
da Bicicleta, e o mandei ao mesmo Saião, que se não me 
engano o fez publicar na Internet. Mais tarde, saindo 
o número 9 da revista (no qual puseram uma cidade 
e um gato meus), me aconteceu o impulso de escrever 
outro poema de bicicleta (escrever poemas de bicicletas é 
como pedalar), que enviei ao Manuel e que foi publicado em 
seu blogue. Depois veio um terceiro, que não mandei para ninguém, e um quarto, e a coisa teria parado aí, se os aros não continuassem a rodar. 
Bicicleta é assim: vai e volta, leva e traz, quando vai, leva alguma coisa, 
quando volta, já vem trazendo novidade. A última novidade foi o presente 
livrinho. A ideia me surgiu por acaso: apanhei os poemas de bicicletas, 
acrescentei alguns, dei-os ao Manuel, pedindo-lhe que os ilustrasse, e o 
Manuel – ciclista experiente – não pensou duas vezes.
Pois aí está o efeito de tudo isso – galinhas, gravidade, acasos, troca de emails e firmeza no guidom. Que o leitor julgue por si mesmo e veja se vale 
a pena pedalar também.
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